sexta-feira, 21 de maio de 2010

Síndrome de Alienação Parental

Reportagem feita por Gabriela Rocha e Thatiana Seixas, e a relação da Pensão Alimentícia com a Alienação Parental. Matéria Telejornalismo I.
Olhando agora, tô achando tudo muito ruim! Mas pelo menos tiramos 8,0. :)



Agradecimentos:
Marcela Caggy
Marcelo Cajado
Rodrigo Moraes
Professora Ana Paula Guedes
Antonio do Labcom
Uélter do Labcom

HORA DE BRILHAR - Por Thatiana Seixas e Carole Mendes


O Projeto Estrela Menina funciona oficialmente há 1 ano acolhendo crianças e adolescentes de Feira de Santana

O curso de Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana possui um projeto de extensão coordenado pela professora Especialista Sílvia Sacramento, docente da UEFS. O Estrela Menina oferece aulas gratuitas de Ginástica Rítmica a cerca de 50 garotas entre 06 e 17 anos, 2 vezes por semana, na própria instituição e é monitorado por acadêmicos de Educação Física da universidade.

A Ginástica Rítmica é uma modalidade olímpica, estritamente feminina que reúne a arte da dança, a disciplina do ballet e a técnica do esporte. Oficialmente, as provas individuais duram em torno de 1min30seg e em conjunto (5 ginastas), 2min30seg. Como forma de entretenimento não há limite de componentes, de tempo ou tipo de música. Nos campeonatos são avaliadas a Dificuldade do corpo e do aparelho, o Artístico e a Execução. As séries podem ser feitas a mão livre ou com um dos 5 aparelhos: corda, arco, bola, maças e fita. Recomendada a partir dos 6 anos de idade, a GR é corpo, música e aparelho.

A metodologia do projeto consiste em ações de informação e acompanhamento, através de cursos, material didático, festivais de ginástica em praças, faculdades, escolas, teatros, shoppings, além de ações sócio-educativas com o esporte. Há ainda realização de palestras educativas para as crianças e suas famílias abordando educação, saúde, qualidade de vida, educação ambiental, alimentação, cidadania além de tardes de lazer.

A estudante feirense Sara Oliveira, de 11 anos, é uma das beneficiadas desse projeto e afirma que antes das aulas não tinha envolvimento com atividades culturais. “Este foi o primeiro projeto em que me envolvi”. Ela estuda pela manhã no Colégio Estadual José Ferreira Pinto, e pela tarde, duas vezes na semana, participa das aulas de Ginástica Rítmica. A modalidade, segundo Sara, é interessante e tem ajudado no seu desenvolvimento físico. “Fiz muitas amizades também”, completa a estudante. Porém, a maior contribuição do projeto na vida dela foi uma apresentação, na qual estratégias para driblar a timidez foram usadas. Isso gerou um desejo: o de continuar praticando ginástica.

Este sonho é compartilhado pela estudante Carolina Santos, de 13 anos. Ela ficou sabendo do projeto através de um amigo, Charles (coordenador do Parque esportivo da UEFS). A menina relata que as aulas trouxeram mudanças para a sua vida: “Contribuiu pro meu desenvolvimento e ajudou até no aprendizado escolar”. A melhor parte das aulas? “As danças e coreografias, com certeza” responde ela. “Hoje estou super envolvida com o projeto, com as amizades que fiz lá, com a dança” revelou.

A ex-ginasta e atual técnica Sílvia Sacramento é graduada em Educação Física pela Universidade Católica de Salvador, Especialista em Ginástica Rítmica pela Universidade do Norte do Paraná – UNOPAR. O projeto já funciona informalmente há 10 anos, quando Sílvia auxiliou professoras e alunas de escolas públicas de Feira de Santana com a modalidade.

A professora ainda explica: “O projeto aproxima a comunidade de um sistema técnico pedagógico e prepara os universitários, configurando-se um importante projeto de extensão universitária.” O Estrela Menina foi aprovado em 2008 pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da UEFS.

Sílvia conclui: “Ainda pretendemos estender o atendimento a cidades vizinhas, possibilitando o surgimento de outros profissionais para atender suas comunidades.”. Na opinião da professora, os profissionais têm receio de trabalhar com a GR, por ser um esporte complexo e também por falta de informação.

A estudante de Educação Física Alexandra Juliana Batista, de 23 anos, é monitora do projeto. Antes de ingressar na UEFS, ela não conhecia a ginástica. Mas a modalidade entrou na sua vida com tal força, que o seu projeto de conclusão de curso, em Dezembro de 2010, será sobre Ginástica Rítmica, e é com isso que ela pretende trabalhar em escolas. Juliana aprende muito nesta experiência, principalmente na relação professor-aluno, que já funciona como uma vivência para a futura profissão.

A Ginástica Rítmica, através do Estrela Menina, promoveu mudanças na vida dos envolvidos. Coordenadora, monitoras e alunas experimentam um crescimento pessoal, alinhado com uma causa social. Nesse caso, bastou dança e uma boa idéia para operar mudanças na comunidade.

Dos EUA para a Bahia

A Escola Pan Americana da Bahia possui educação norte-americana e

é um dos colégios mais caros de Salvador.

Aguardando Mister Klumpp, fui ficando cada vez mais receosa: a maioria dos funcionários tinha um pouco de medo de contatá-lo. Antes de me receber, entraram dois alunos em sua sala, um brasileiro e um português, acompanhados de duas professoras. Rapidamente ele resolveu a situação e me recebeu muito educadamente e falando em inglês “Hi Thatiana, Nice to meet you!” no que eu respondi confusa “Nice to meet you too, Mister Klump”. Reapresentei-me em português e ele pareceu nem ter percebido que falara sua língua materna. A sala de Dennis Klumpp, 58 anos, superintendente da Escola Panamericana da Bahia há quase três anos, é simples e muito bem organizada. Em alguns momentos de nossa entrevista ele achou com facilidade pastas com informações necessárias dos seus 625 alunos. Ele é um homem sério e carismático ao mesmo tempo, respondendo a todas as minhas questões com precisão e entusiasmo.

A Escola Pan Americana da Bahia foi fundada em agosto de 1960 por pais de alunos (como a maioria das escolas americanas), que vieram trabalhar pela Daw Química. No início tinham apenas 40 alunos e funcionou 5 anos numa casa alugada no Campo Grande. Um grupo de 4 famílias doou o terreno em Patamares onde funciona a escola atualmente. Até hoje a escola pertence a uma Associação de Pais. A EPABA não tem influência religiosa e nem fins lucrativos, porém cobra caras mensalidades para a realidade soteropolitana: de 1.188 a 1.791 dólares mensais. Mas isso tem justificativa: todos os anos novos professores vêm dos Estados Unidos para lecionar. Isto é de grande custo, pois eles precisam de toda a assistência.

A Escola tem um boa infra-estrutura, com campo de futebol, quadras de esporte, piscina, 55 salas de aula, 2 laboratórios de ciências, 2 laboratórios de informática, 2 salas de artes, 2 playgrounds e um centro tecnológico que mantém toda a rede de toda a escola. Em alguns casos, os alunos estrangeiros têm um preço diferente na mensalidade, pois quando sua família se muda para a Bahia por conta do trabalho, as próprias empresas pagam a mensalidade do estudante. Diferente das outras escolas de Salvador, a Escola Pan Americana preocupa-se mais com a qualidade do que com a quantidade. Desde que Mister Klumpp assumiu a superintendência da escola, há 3 anos, houve mais 200 alunos novos. E mesmo satisfeito com este crescimento, ele não acha que pode crescer muito mais: “Para não comprometer a qualidade do ensino, nós prezamos a baixa proporção professor-aluno, para que haja maior atenção com cada um deles”. Todas as salas da escola têm um professor, um assistente e um auxiliar, e em média 24 alunos.

O ano letivo começa em agosto como nas escolas americanas, tendo férias de 49 dias a metade de dezembro ao final de janeiro, e finalizando as aulas no meio de junho. A rotina dos alunos da EPABA inicia-se ás 7:30 e termina normalmente ás 14:30. As atividades extracurriculares, em que quase todos os alunos participam, começam as 14:45 e vão até as 17:00. São em média 2 horas, requeridas pela escola, de estudo em casa, e isso significa praticamente 12 estudiosas horas para estes estudantes. A instituição acredita que os alunos devem aprender além da sala de aula. E por isso a escola oferece aulas de esportes, teatro, música, ballet, capoeira, entre outros.

A proporção da nacionalidade dos alunos é de 65% de brasileiros, 15% norte-americanos e 20% de outras 21 nacionalidades. No corpo docente, 50% dos professores são brasileiros e 50% norte-americanos. A escola tem a divisão de séries no sistema americano. A Educação Infantil tem alunos de 2 a 4 anos e as crianças já começam a ser alfabetizadas em inglês e em português. A partir daí, nas outras séries, os alunos tem que ter conhecimento além do básico em inglês. A Elementary School tem alunos da Kindergarten (Jardim de Infância) a 5ª série. A Middle School é da 6ª a 8ª série. O High School é o que chamamos de ensino médio e os alunos são predominantemente brasileiros. Quando se formam, os estudantes geralmente vão para faculdades nos Estados Unidos e quando é aqui no Brasil, as mais frequentes são ITA, Unicamp ou USP.

Klumpp defende o modo de ensino norte-americano: “Não só no Brasil, mas em outros países da América do Sul, as matérias escolares são ensinadas com superficialidade. O assunto se confunde nos seus setores e vira algo muito mais para memorizar do que para aprender criticando e avaliando as situações. A EPABA segue este método de aprofundamento, antes de colocar outro assunto da matéria em questão. No mundo inteiro existem escolas com o programa norte-americano, mas o Brasil é o país que possui o maior número, são 14 no total”, diz o diretor.

A Pan Americana comemora datas do Brasil e dos Estados Unidos. Assim como há um grande almoço com todos os alunos no dia de Ação de Graças, também há comemorações do folclore brasileiro, o São João e Independência do Brasil. Com exceção das aulas de português e espanhol, os alunos falam durante todas as aulas em inglês. Fora da sala de aula, é muito frequente ver os alunos começarem a falar inglês e terminar em português, principalmente quando falam sobre as matérias escolares. A alimentação é de influência brasileira, o que encanta os estrangeiros. O diretor nos fala que os sucos fazem muito sucesso, e de quando em vez, servem moqueca no almoço.

Desde a Elementary School os estudantes são incentivados a expor suas opiniões, formando associações e grêmios. Existem grupos de alunos que participam de torneios em vários países onde eles respondem perguntas e fazem provas, contraindo prêmios para a escola.

Ricardo Araújo Gomes chama atenção por ser bem loiro e sorridente. Ele tem 11 anos e estuda na EPABA há 7. Mora em Lauro de Freitas, é aluno da 6ª série (o primeiro ano da Middle School). “Eu gosto muito desta escola! Adoro os amigos que tenho aqui! Minha matéria preferida é Educação Física e ainda faço aulas de volei e basquete!” conta ele. Normalmente, Ricardo sai da escola ás 16:00, devido ás atividades extra-curriculares.

DENNIS KLUMPP

Dennis Klumpp é natural do estado de Michigan, e veio ao Brasil pela primeira vez em 1978 para lecionar em Belo Horizonte. Depois foi ao Japão, lecionou mais 7 anos no Rio de Janeiro, trabalhou ainda no Chile, e no Paraguai por 5 anos. Sua formação é Bacharel pela Central Michigan University, Mestre em Educação pela Universidade de Massachusetts, Especialista em Administração Educacional pela Central Michigan University, PhD em Administração Educacional com ênfase em Ensino Secundário pela Boston College University.

Há 3 anos iniciou seu trabalho como superintendente da Escola Pan Americana da Bahia. Klumpp é casado e tem 2 filhos que moram nos Estados Unidos e falam 4 línguas, para o orgulho do pai. Hoje ele mora no bairro de Patamares em Salvador e diz: “Hoje sou mais brasileiro do que americano”.

Um hábito que ele traz dos Estados Unidos é a rigidez com horário e disciplina (pediu-me desculpas por ter me atendido com 10 minutos de atraso). Ele contou que outro dia suspendeu por 3 dias um aluno brasileiro por motivos de disciplina. Os pais foram até ele ver se não havia um jeito de contornar a situação e ele foi muito firme dizendo que não. O que chamamos aqui de “jeitinho brasileiro”, é o que Dennis Klumpp não encorporou nos seus costumes. Ele responsabiliza o clima quando se fala que as pessoas dos Estados Unidos têm fama de serem “frias”: “Em Michigan, o pico é de -20°C. A neve é alta na rua, as pessoas se recolhem em casa, não saem muito no frio”, defende ele.

Quando eu pergunto sobre o choque cultural da Bahia e Michigan, Mister Klumpp responde: “Eu amo a Bahia!”

INFLUÊNCIA NORTE-AMERICANA

Todos os dias presenciamos a influência que os Estados Unidos possui na rotina do nosso país, às vezes nem percebemos o quanto é frequente. Apesar de ter uma cultura tão diferente da brasileira, o mundo norte-americano está cada vez mais introduzido no dia-a-dia. Nós vestimos jeans, comemos Big Mac, assistimos um filme com Bradd Pitt na HBO, navegamos na internet e conversamos no msn. A própria faculdade é franquia da americana Whitney International University System. A maior potência mundial vem acreditando cada vez mais no Brasil, e se fazendo mais presente em todos os setores, principalmente trabalhistas. E aqui na Bahia: Tem combinação melhor que acarajé com Coca-Cola?

COLABORAÇÃO: PROFESSORA CONSUÊLO SOUZA, COORDENADORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ESCOLA PANAMERICANA DA BAHIA

Thatiana Seixas, estudante de Jornalismo da UniJorge. Novembro de 2009.

LUTO POR UM PAI VIVO - por Carole Mendes e Thatiana Seixas


Luto por um pai vivo

A história, o sentimento e a realidade de quem foi abandonado

A estudante baiana Ana Cristina Bispo dos Santos, a Lalica, de 20 anos, trabalha, estuda, ajuda a mãe com as tarefas domésticas e ainda brinca com os quatro irmãos mais novos. Sua história poderia ser como a de uma jovem comum. Isso se a estudante não lidasse, desde cedo, com o abandono do pai.

Filha de mãe e pai jovens, de 15 e 19 anos respectivamente, Lalica já nasceu com os pais separados. “Ele se envolveu com uma amiga de minha mãe quando ela estava grávida de mim. Por causa dessa amiga ele se afastou e não quis nem me registrar” conta ela.

A Síndrome de Alienação Parental, assim delineada pelo americano Richard Gardner, psiquiatra e professor da Universidade de Columbia, tem várias vertentes e está sendo mais discutida atualmente pelo grande crescimento de casos. Isso gerou um projeto de lei, que está tramitando no Senado, no qual Alienação Parental passa a ser crime.

Essa situação pode ocorrer de diferentes formas. Basicamente é gerada por familiares, principalmente pelo pai ou pela mãe, que instiga o filho a odiar o outro genitor.

No caso de Lalica, em que o genitor alienado é o próprio responsável pela sua ausência na vida da filha, é a Síndrome de Órfãos de Pais Vivos, que ocorre quando uma criança sofre abandono por parte de algum dos genitores, ou pelos dois. As desculpas para tal comportamento são inúmeras, como não se comprometer financeiramente, a formação de uma nova família, ou não querer conviver com o fruto de um relacionamento fracassado.

O psicólogo Anderson Chalhub, mestre e doutorando pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), com uma tese a respeito de crianças e adolescentes que sofreram algum tipo de abuso ou abandono, acredita que crianças que sofreram essa ausência vivem o luto de ter que “matar” emocionalmente seu pai ou mãe ainda vivos.

No caso de Lalica, sua mãe teve que entrar na justiça, solicitando que o pai registrasse a menina e pagasse pensão alimentícia. “Ele me registrou quando eu tinha dois anos, e me deu pensão até os sete. Depois, ele não procurou mais emprego com carteira assinada, para não ter a obrigação de me bancar” relata. Quando argüida sobre aquilo que sentia mais falta em relação ao pai, Lalica diz que gostaria de sua presença, tê-lo como provedor financeiro e amigo para dar o apoio emocional necessário: “Quando eu mais precisei, eu não tive o apoio do meu pai. Eu sou órfã de pai vivo. Eu queria que ele passasse por mim e desse pelo menos um ‘bom dia’. Mas se eu não falar com ele, ele não fala comigo. É muito triste isso”, desabafa.

Seis anos depois do nascimento da estudante, o mesmo homem, segundo sua mãe, forçou outra relação. Deste ato foi gerada Vivian de Jesus dos Santos, que até hoje não foi registrada. “Meu pai era casado na época. Ele tinha medo de me assumir. Pediu o exame de DNA, e mesmo com o resultado positivo, dizia que eu era filha de outro” explica a adolescente de 14 anos. Do que Vivian sente mais falta? “Do amor, de ter um pai presente, que me dê as coisas, que se preocupe comigo”.

Apesar de ausente na vida das filhas, o genitor mora no mesmo bairro que elas, e constituiu outra família, onde desempenha o seu papel de provedor e educador. Lalica afirma ter uma boa relação com a família paterna. “O problema é ele”constata.

As irmãs relataram que durante muito tempo nutriram expectativas em relação ao pai. E hoje, apesar de gostarem dele, ambas afirmam que as necessidades do papel paterno já foram preenchidas pelo padrasto, e que seria difícil restituir o tempo perdido.

Chalhub explica que, ao viver esse abandono, por uma estratégia de sobrevivência, “é possível adotar outras pessoas como referenciais basilares na construção de uma identidade: avós, padrasto, madrasta. Mas, essa criança, ou adolescente, poderá sempre se perguntar ‘por que eu não fui digno do amor do meu pai? ’ e isso é muito doloroso”.

O psicólogo afirma que esses filhos negligenciados podem ‘vestir uma capa de forte e bem resolvido’ ou adotar uma postura de se enxergar como um injustiçado pela vida. “É preciso mostrar a essas pessoas que vale a pena elas investirem em si mesmas”.

Nem sempre o final de um casal será feliz, mas a responsabilidade de um pai pela vida do seu filho é vitalícia. Na separação, não é justo que o filho seja o mais prejudicado (para não dizer o único). Pequenos gestos, enorme repercussão. Um pouco de negligência, um enorme dano. Um pouco de amor e responsabilidade, constituição de uma vida saudável.