domingo, 28 de novembro de 2010

Entrevistando Luís Miranda


Mais uma vez postando o que não posso no iBahia... Entrevista com Luis Miranda, feita por mim, para o iBahia.com.


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'Eu acho que todo drama tem um profundo toque de humor, assim como todo humor tem um profundo toque de drama'. É assim que Luís Miranda, que está com sua peça em Salvador, define sua experiência como ator de teatro, TV e cinema. O artista se dá bem com todos os papéis que lhe são dados, desde o contido e dramático de Jean Charles, aos 7 que ele interpreta no espetáculo 7 Conto, onde também assina o roteiro, e tem direção da atriz Ingrid Guimarães. Luis Miranda contou ao portal iBahia seus planos futuros e falou sobre o sucesso do espetáculo que está em cartaz no Teatro Jorge Amado, na Pituba, de sexta a domingo às 20h, até o dia 21 de novembro de 2010.

iBahia - Você prefere fazer cinema, TV ou teatro?
Olha, eu acho que não tem muito uma preferência não. Depende muito do que você faz em cada lugar. Eu vou dizer que eu amo fazer teatro porque foi minha primeira escola. Eu comecei a fazer teatro muito novo, já fazia na escola e com 14 anos comecei a fazer no Sesc. Eu digo que Teatro é minha paixão porque hoje eu consegui fazer uma peça onde além de fazer as coisas que eu quero, ter criado o texto, enfim, ter toda uma concepção que é minha, eu acho que eu amo ver o resultado de uma coisa que é muito imediata que é: você termina o espetáculo e vai saber se as pessoas gostaram ou não. No cinema e na televisão é bem diferente. Então eu acho que gosto mais de teatro por causa desse imediatismo do resultado que acontece.

iBahia - E a dança?
Eu amo! Eu tenho formação de dança, eu sempre gostei de fazer aula. Eu adoro dançar, eu acho que a dança completa muito um artista e que é uma das coisas mais importantes que um artista tem que saber, além de falar, saber mexer o corpo. Um corpo inútil é um corpo que não tem porquê estar em cena, tem que estar vivo.

iBahia - Quando você começou a fazer 7 Conto?
O espetáculo acabou de completar 4 anos. Eu comecei em 2006, lá no Rio de Janeiro, no Teatro Laura Lovin. A direção foi da Ingrid (Guimarães), foi uma produção muito difícil de fazer porque a gente não tinha muito dinheiro. Mas conseguimos com uns amigos da Trama Gravadora um pouco de dinheiro para fazer a peça. A estréia foi muito crua, não era o espetáculo que é hoje, e estreei muito inseguro porque eu estava fazendo muita coisa ao mesmo tempo. Hoje eu me sinto muito feliz.

iBahia - A peça ao mesmo tempo que é uma comédia, é uma crítica a sociedade. Você se baseia em quê?
Eu acho que uma coisa está muito ligada a outra. A gente ri da crítica. A gente faz a crítica justamente pra isso, pra de alguma maneira despertar pra uma coisa que não seja aquela coisa 'panfletária'. Uma coisa seria, eu chegar e falar isso ta certo ou isso ta errado. Outra coisa é eu trabalhar uma ironização, como eu faço com questões contudentes no país. Então eu acho que fazer o riso é exatamente pra chamar atenção das coisas sérias. Parece meio dispare, mas faz muito sentido você, através da risada, comover as pessoas. Meu objetivo na verdade é fazer com que as pessoas reflitam. Então pra mim se as pessoas refletirem, se as pessoas tiverem um posicionamento ou pensarem em alguma coisa naquele momento, eu já vou estar muito satisfeito.

iBahia – Então, você quer que as pessoas saiam daqui rindo ou refletindo mais?
Um pouco de tudo. Eu adoro essa reflexão risível. No teatro vem gente de todos os níveis, vêm pessoas que nunca vieram ao teatro, vêm intelectuais, pessoas que vêm só pra ver o ator. Tem gente que vem pra ver que fenômeno é esse. Então minha idéia central é fazer com que as pessoas saiam daqui entendendo que o teatro pode ser diferente. Que o riso não é só o riso, que a graça não é só a graça, que existe uma possibilidade de você rir e refletir, de você rir e pensar. Eu me interesso pelas pessoas que saem daqui comovidas e divertidas.

iBahia - Qual das 7 personagens você se identifica mais?
É muito difícil. Eu acho que não existe um personagem que seja só eu mesmo. Eu vou dizer que a Dona Editi é uma personagem que eu adoro fazer porque tem uma coisa muito pitoresca dessas histórias da minha vizinha, um pouco das coisas da minha mãe que eu boto junto às vezes. Mas eu amo todos assim. Eu amo a Sheila, eu adoro fazer essa perua milionária, adoro o Queixada. Eu adoro fazer assim, sem pensar qualquer um deles.

iBahia - Quais foram as cidades que você já passou com o espetáculo?
Não vou me lembrar de tudo mas... Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, São Luís, Recife, fortaleza, Aracaju, São Paulo, Rio de Janeiro, algumas cidades do interior de São Paulo, algumas cidades do interior da Bahia como Ilhéus, Itabuna, Barreiras, Vitória da Conquista, Feira de Santana...

iBahia - Você sente diferença em se apresentar em outros lugares e em se apresentar em casa?
É muito gostoso você estar em casa né? Imagina, eu faço uma piada que é a cara do baiano, essa ironia, essa maneira debochada que a gente tem de fazer as coisas, e acho que o público aqui se identifica muito. Mas tenho essa sensação forte que no Brasil inteiro as pessoas gostam e se identificam, mas na Bahia é mais forte.


iBahia - Como é sua relação com Ingrid Guimarães?
Ah, é maravilhosa! Minha amiga. Estamos em um projeto juntos, um Sitcom chamado Batendo o Ponto. Já gravamos devemos ficar na grade do ano que vem. To super feliz de voltar a fazer televisão com ela, é uma parceria incrível. Minha grande amiga, eu tenho muito orgulho de sermos parceiros e fico feliz dela ter aceitado dirigir. É incrível.


iBahia - Você vai fazer uma participação na nova série da Globo As Cariocas. Como é a sua personagem?

É uma personagem divertida chamada Margareth, uma travesti que faz ponto na rua, ela e as atrizes Rosi Campos e a Leona Cavali. Na história elas encontram a personagem da Angélica, que é uma mulher que foi traída pelo marido está indo pra rua à forra. E essas prostitutas ficam ajudando ela a escolher um cara pra ela poder transar. Então é super divertido esse episódio. Fiz também A Grande Família, que deve ir ao ar logo.

iBahia - Qual o planejamento pra TV e cinema?
Tem o Sitcom sobre o empresariado, sobre trabalho, são pessoas que trabalham juntas, é bem corporativo. Vou fazer o Josh, um personagem bem divertido e que trabalha numa fábrica de cola. Vai ao ar em dezembro junto com os especiais do final de ano, e acho que tem tudo pra emplacar. Em novembro estréia um filme que eu fiz chamado Muita Calma Nessa Hora. Estou muito feliz, tem muita coisa boa acontecendo.

iBahia - Como é a sua experiência com o 'não-comédia'?
Eu fiz o Jean Charles que é um filme nada fichinha. Fiz o filme O Signo da Cidade da Bruna (Lombardi), que é mais contido. Eu me dou muito bem com todas as coisas que me dão pra fazer. Eu acho que todo drama tem um profundo toque de humor, assim como todo humor tem um profundo toque de drama. As personagens aqui eu faço pra valer, de verdade. Porque eu acho na verdade que as pessoas riem porque é muito levado a sério. Então esse ridículo do sério é que torna a comédia engraçada.

Entrevista Pato Fu

Como não posso assinar no iBahia.com, que é onde faço estágio de jornalismo, vou postar aqui o que faço. :)


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O iBahia conversou com Fernanda Takai, John Ulhoa e Ricardo Koctus, da banda Pato Fu. O grupo apresenta pela primeira vez em Salvador seu novo projeto, Música de Brinquedo.

Conhecidos por inovar e fazer sons com objetos inusitados, os músicos não se definem num estilo musical e falam do novo trabalho.

Nos vídeos a filha da cantora, Nina de apenas 7 anos, já dá os primeiros passos no mundo da música, cantando com os amigos e dando todo o brilho a Música de Brinquedo.

iBahia - Fale sobre o projeto música de brinquedo.

John - Sempre fomos uma banda inovadora... Sempre usamos qualquer coisa que desse pra fazer música. Nunca fomos de ter fórmulas como “guitarra, baixo, bateria e pronto”. Qualquer coisa que der som e for boa, a gente usa. Nós tínhamos visto no ano de 1996 algo muito parecido, a turma do Charlie Brown e do Snoop, que tem influência dos Beatles, apesar de ser mais infantil. A gente viu há mais de 10 anos, mas ficou como uma coisa que a gente um dia pudesse usar. Ficou um pouco esquecido, e veio a tona de novo quando nós todos começamos a ter filhos. Começamos a visitar lojas de brinquedos, a parte infantil das lojas de instrumentos musicais e começamos a querer dar de presente aos nossos filhos. Acabamos descobrindo que tem alguns “tocáveis”. Dá pra gravar, fazer show. Nas minhas outras produções como Érica Machado, Zélia Duncan, eu coloquei uns brinquedinhos e a gente viu que dava pra fazer. E na dúvida se ia dar certo ou não a gente gravou a primeira música que foi Primavera, com os brinquedos que tínhamos na mão, um pianinho, bateria, saxofone de plástico que eu tinha em casa, ainda não tinha nenhum brinquedo novo. O resultado deixou todo mundo muito animado, deu muito certo. Dessa música pro disco todo foi quase 1 ano, compramos um monte de coisas pra fazer o que a gente imaginou. O piano de brinquedo é o carro chefe.

iBahia - Quais foram os instrumentos que vocês usaram nas músicas?

Fernanda - O piano de brinquedo é o principal. Ainda tem o cavaquinho que foi usado como violão folk. A bateria, a escaleta. É muito difícil: os brinquedos não se afinam como os instrumentos comuns. Mas essa é a graça, dá essa sonoridade meio “Monstro Fofinho”.

iBahia - Vocês sempre gostaram de inovar, com instrumentos. De onde vem toda essa criatividade?

Não levamos os estilos muito a sério. Nos nossos discos tem umas coisas pesadas, punk-rock, tem umas coisas mais embaladas, eletrônico, caipira, acústico. Mas não somos nenhuma dessas coisas. Ouvimos essas coisas simplesmente como som. Como nós não nos definimos, temos a liberdade de fazer aquilo “torto”. É fazer o punk-rock com um instrumento de brinquedo. Fica mais legal.

iBahia - Em que vocês se inspiram?

Se for juntar tudo, dos sete músicos, dá uma coisa enorme. Mas é basicamente anos 80, rock inglês.

Ricardo - É interessante que rock dos anos 80 é mais pop, underground, um meio termo. Eu gostava de Legião, Titãs. O John era mais underground e a Fernanda é Duran Duran.

TORTURA MODERNA - por http://redatorasdemerda.blogspot.com

EU RI DEMAIS COM ESSE TEXTO E DOU RISADA TODAS AS VEZES QUE LEIO.
mandei pras meninas do trabalho essa semana e maioria gostou... haha!
Se prepara!

“Tenta sim. Vai ficar lindo.”
Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às... deixa eu ver...13h?
- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
- Quer bem cavada?
- ...é... é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
- Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- Pode abrir as pernas.
- Assim?
- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
- Arreganhada, né?
Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.


Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural. Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.
- Tudo ótimo. E você?
Ela riu de novo como quem pensa “que garota estranha”. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.


O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.
- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só virilha, bigode não.
- Não, querida, os lábios dela aqui ó.
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.
- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.

Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. “Me leva daqui, Deus, me teletransporta”. Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.
Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- Segura sua bunda aqui?
- Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:
- Tudo bem, Pê?
- Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu tuin peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

- Vira agora do outro lado.
Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.
- Máquina de quê?!
- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá, passa essa merda...
- Baixa a calcinha, por favor.
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
- Tá linda! Pode namorar muito agora.
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Queria comprar o domínio preserveasbucetaspeludas.com.br. Queria tudo.
Menos namorar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O INSUSTENTÁVEL PRECONCEITO DO SER, POR ROSANA JATOBÁ


Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos.
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....
De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.
Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:
-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:
"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".
"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem.
A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta:
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje?
A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:
- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?
Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu!
A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem".
Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável.
O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
-Só podia ser mendigo!
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.
PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos...

Rosana Jatobá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo. Também apresenta a Previsão do Tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo.

Pois é, a garota do tempo arrasou.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Síndrome de Alienação Parental

Reportagem feita por Gabriela Rocha e Thatiana Seixas, e a relação da Pensão Alimentícia com a Alienação Parental. Matéria Telejornalismo I.
Olhando agora, tô achando tudo muito ruim! Mas pelo menos tiramos 8,0. :)



Agradecimentos:
Marcela Caggy
Marcelo Cajado
Rodrigo Moraes
Professora Ana Paula Guedes
Antonio do Labcom
Uélter do Labcom